domingo, 21 de junho de 2009

O dia depois do amanha…


Acabei… talvez ainda não esteja em mim, ou a minha mente me traia, mas acabei… No dia depois do amanha fiz o que o meu coração me mandava fazer… Depois de contadas noites mal dormidas eu tinha que me levantar… eram 8h, na teórica tinha tido 5h de sono, mas a pratica não contava a mesma historia…

Cheguei de manha e vi toda a gente…. Vi quem tinha de ver e senti a infinita presença de quem devera sentir… E deixei tudo acontecer… Vi sofrimento, magoa, saudade, arrependimento, 7 tios, 7 pessoas, 7 histórias diferentes… E cada olhar que por mim passava me deixava uma marca… um sinal que eu estava acordado, que eu estava atento… E naquelas tremendas voltas andei eu… passo por passo, movimento por movimento, nem uma lágrima me ocorreu… Não podia, não era isso que querias avô… querias que eu estivesse ali, firme, que abraçasse quem precisasse, que desse aquele carinho que so com o olhos conseguias dar…

Não sei como sabia isto, mas também não me preocupei em saber… Abandonei as lógicas e os debates… agora guio-me pelo que acredito, guio-me por mim… Como neto rapaz mais velho eu tinha que ali estar… Oh avô e quanto eu sofri… tu estavas bem, eu sabia que sim, tu disseste-me nas tuas ultimas palavras para comigo… Olhando tudo aquilo eu tinha que ser forte… forte por mim, por ti, pelos tios, pelos primos, pelo mundo, pela vida, por tudo o que sabemos e que não sabemos que existe…

E então acordei de manha e peguei em muitos lenços… Eu sabia que iam ser precisos, e não queria ver ninguém chorar… Oh avô, isto hoje não é uma das reflexões da minha filosofia… é a nossa realidade, a minha realidade…. EU não chorei… É verdade… eu acredito que tu estas bem, tal como me disseste… Acredito que estas num sitio bem melhor do que aqui estavas meu avô… Dividi-me em alma e corpo… deixei a alma imaginar, criar, usar liberdade de alcançar… o meu corpo levava a minha alma, e comigo tentei estar em todo o sitio…

Olhei-te prima… quando perto de mim chegaste percebi que tinhas o olhar numa vastidão maior que a minha… E então decidi ficar perto de ti também… E assim tudo fiz… eu estive ali, cansado, triste, só, mas ali pronto para o que de pior podia ver… Não chorei mas tive orgulho de mim… Sabia que estava a cumprir a tua vontade avô… Aquele vento que tanto gosto soava-me nas costas… companheiro das minhas horas, estavas tu ali quase numa tentativa de me acariciar… Eras frio, mas reconfortante… batias no meu rosto so para dizer para eu acordar… Tentei não exagerar nos sorrisos, não cair em esquecimento de alguém, e naquele minha maratona sei que fiz o que tinha a fazer… enquanto te abraçava pai, percebi que és tudo o que um filho tem neste mundo… Os teus olhos mostravam a saudade, a dor, as recordações de um passado longínquo que agora nem isso mais eram… Porque tanto faria terem passado 2, 20, 40 anos, naquela hora nada daquilo fazia sentido… A tua dor reflectia o teu desejo de mudar o tempo, de pedir mais tempo, de vencer o tempo… Oh pai, eu fiz o que podia para não te ver mais sofrer… abracei-te quantas vezes acreditava que fossem precisas…

Ao te abraçar anjinho, fiquei com a tua dor… não a perdeste, mas partilhas-te comigo… Eu senti na pele o gosto amargo de viver apenas nas recordações… mas mesmo assim não entristeci… Eu sabia que estavas bem avô, e então concentrei-me naqueles momentos em que andavas de bengala, ou a dar comida ao gato, ou ate mesmo naqueles momentos em que vias as tuas vinhas na esperança de ter uma colheita perfeita…

E depois de nos despedirmos tudo acalmou aí… o mundo parecia ter dado uma volta de 360º e claro, ter ficado no mesmo sitio…

A intensidade dos momentos é a alma das palavras que nem um poeta consegue expressar…

Voltei a casa, com todas aquelas recordações na mente… fui me certificando que todos estavam bem, e aos poucos fui voltando ao trabalho… São 01h45 da manha de Domingo e eu estou aqui na minha varanda como todas as noites…. Procuro agora incessantemente a tua estrela… a estrela que sempre foste, a estrela que sempre brilhaste…

E é nesta noite que me despeço… Até já avô… a vida são dois dias e um já passou… e eu juro-te que vou dar o que tenho e o que não tenho, para honrar cada mísero segundo de vida que contemplo…

A ver o mundo, a lembrar-me sempre de Ti…

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