sexta-feira, 19 de junho de 2009

O silêncio das palavras…

Não consigo dizer nada… apenas adeus… A minha alma chora por entre os cantos da solidão de assim te ver… Doem-me as mãos, a cabeça, o coração… mas como me ensinaste estarei aqui para aprender… Eu posso não saber o amanha, o hoje, não saber o destino, ou o fim da vida… mas tal como tu, vou tentar dar ao mundo a simplicidade que só o amor sabe dar…

Na simplicidade de um camponês, viveu uma vida cheia de aventuras… Não se dava a grandes reflexões, não pedia muito, mas a sua alma era a imensidão do mar… Tinha um coração do tamanho do mundo, onde todos cabiam e havia sempre lugar para mais um… Não pedia fortuna, nem luxúria, nem desejava pecar… Apenas vivia na constante esperança de estar no seu lugar… e lá sempre esteve… Não sabia ciências ou matemáticas aplicadas… não usava um computador ou desejava um telemóvel… Como a vida o ensinara, sonhava com os seus pés no chão… Ele podia não ter nada, mas era um tudo… era um tudo completo por todas as pequenas coisas que compunham a vida, pelos momentos, pelos sentimentos… Durante a sua vida esmerou-se por sempre tentar… lutou desde sempre, seguiu o que acreditava, persegui o que sonhava… Teve uma família, uma vida à sua volta… E naquela simplicidade de uma boina para sempre o recordo…

Lembro-me de quando te visitava… sempre com uma graça, sempre pronto a fazer sorrir… Aquele teu sorriso espontâneo nascido do desejo de me fazer feliz era inabalável… Recordo quando me davas concelhos, quando tentavas guiar-me… Resumidamente no final apenas uma coisa me transmitias… “Sê feliz”… é o que tenho tentado… dizias-me sempre com aquela tua dócil voz que eu estava grande, e que eu ia crescer… Se eu queria voar, tu davas-me asas… Apoiaste-me sempre, desde sempre, e naquele teu silencio das palavras tudo eu entendia…

Aquele teu silencio das palavras… lembro-me quando me olhavas vagamente… Sentia-me abraçado e no fim, mais rico… Sabias o que sabias… e nem imaginavas o quanto isso já era… Não te impunhas ao mundo, deixavas que ele te levasse… E no continuo desejo de viver, respiravas cada momento como se o amasses… Nos teus olhos eu lia a humildade de das lágrimas que choravas… Nas tuas palavras ouvia-a a coragem que me davas… Nos teus gestos, a força de amar, e no fim de tudo via a vontade de continuar… Não tinhas limites… Não paraste de ver crescer, não desististe de acreditar… criaste, e alma a tudo deste… Rezavas por ti, por mim, por todos nós… Estavas sempre pronto a contar uma historia, mas já a historia de uma vida…

Não vivemos juntos, não contamos uma historia de triunfos, mas cada segundo ao teu lado, foi um passo para ser o que sou… para ser aquilo que o destino me traçou… E agora olho para ti… és uma estrela que sobre nós brilha... Sejamos honestos, eu não sei porque aqui estou, eu não sei porque nasci, o que tenho que fazer, o que me compete a mim imaginar…. mas sei algo… Sei que ao meu lado sempre tiveste… Podias não ter as respostas as questões que tinhas, mas à tua medida assim foste feliz… Podias não saber a razão de aqui estares mas deste sempre o que tinhas para alguém amar…

Tantos filhos tiveste, outros tantos netos quiseste… Estivemos na tua vida da forma como pudemos… Lembro-me de mim e do meu Pai… lembro-me das nossas manhas das nossas visitas… Lembro-me daqueles caminhos que na simplicidade de um caminhar fazia-mos… Lembro-me de chegarmos e no campo estares, dos teus vinhos, simples, mas divinos… Recordo a tua vida, a tua essência e o tanto carinho que tinhas para dar…

E quero ser como tu AVÔ… Quero marcar o mundo que me rodeia à medida daquilo que acredito… quero fazer os outros felizes… quero passar aventuras e desventuras, emoções e desilusões… quero cair, sofrer, chorar apenas para depois me levantar… Quero ser forte como tu… Porque em toda a tua vida cumpriste a tua missão… Vou ter saudades tuas avô… vou ter saudades de ver aquela tua boina, a descer aquela rampa junto a tua moto, a vir ter comigo e com o teu gato… Vou ter saudades de ver a tua força avô… De te ouvir brincar com os meus pais, de sentir o teu aperto de mão…

Agora a ti Pai… A ti prometo aqui sempre estar… perdoa o que sou na humildade das minhas lágrimas… Nos teus olhos vejo um mundo a cair… vejo um império do auge sair… Quando choras a minha alma chora contigo… quando cais eu caio contigo… quando te sentes só eu sinto-me perdido… perdoa-me… perdoa o que te faço de mal… Porque eu olhar para ti vejo o que sofres e as minhas lágrimas saem no silencio das palavras… Nada consigo dizer-te, apenas força tento remeter-te… Eu estou contigo Pai… e por tudo aquilo que és, orgulho-me de isto te chamar… Pai… Estamos juntos, aqui ou ali, agora e daqui a pouco também…

Triste meu silencio vindo destas palavras… Na promessa de te honrar avô te digo, Obrigado… Por seres aquilo que foste, por teres vindo à minha vida e por mim teres olhado… Só desejo que sejas feliz naquela tua luz que apenas nós os três sabemos… Neste nosso silencio te digo…

ATE SEMPRE AVÔ

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by Dreams663"The Shine Of Your Days"

1 comentário:

Rita A. disse...

Antes de mais, os meus sentimentos pelo teu avô...

Perder alguém de q tanto gostamos custa mto, eu já passei por isso.
E aprendi uma lição: devemos valorizar os momentos com quem passamos, para mais tarde os recordar. Devemos prestar atenção e escutar o q nos dizem, porq pode ser a última vez q ouvimos essa pessoa.

O texto q escreveste é uma homenagem ao teu avô, é um texto belo e sentido.
Mais uma vez partilhaste o q t vai na alma.
Quando se está em momentos menos bons, como é o teu caso, escrever é uma óptima forma de libertar a pressão da tristeza q se sente.

Desejo-te mta força... E q no silêncio das palavras (ou não) saibas transmitir essa força a outros, à tua família mais chegada principalmente.


* . Q a Luz te brilhe sempre . *